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Material de apoio didático ajuda a preservar e difundir a cultura e história do povo Kalapalo

Projeto realizado há mais de dez anos auxilia na disseminação da cultura local



| Texto: Fernando Barbosa

Na porção sul do Parque Indígena do Xingu, considerado um dos mais importantes centros da cultura indígena brasileira, onde habitam os Kalapalo, etnia distribuída em dez aldeias, que constituem um dos quatro povos da família linguística Karib.

Em decorrência da diferença cultural, muitas comunidades indígenas vivem à margem da cidadania. Esta população precisa constantemente buscar direitos fundamentais assegurados na constituição, como saúde, educação e sua autopreservação.

Com a proposta de reverter este quadro, a Unicamp busca promover uma educação integrada que agregue a cultura, a história e a língua na formação de professores, jovens e adultos promovendo a continuidade das tradições originárias.

O projeto é realizado há mais de dez anos e possibilita a aldeia Kalapalo ter seus registros históricos e culturais preservados. Para isto, pesquisadores da Unicamp concluíram uma cartilha bilíngue karib-português, utilizada nas escolas da aldeia e, mais relevante, todo o processo da construção do Plano Político Pedagógico (PPP) com a aprovação dos professores e líderes indígenas.

A interação com as aldeias Kalapalo resultou também em produções audiovisuais, mapas e um livro. Os materiais produzidos auxiliam na disseminação da cultura local, exibindo um rico mosaico da diversidade étnico-cultural, além dos limites da reserva do Alto Xingu.

O projeto coordenado pelo professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) Antonio Guerreiro e seu grupo de trabalho acredita na troca de conhecimento como forma da preservação da linguagem, escrita e a cultura, além de abrir espaços na Universidade e em outros centros.

 

Antonio Guerreiro, professor responsável pelo projeto

 

Guerreiro explica que o trabalho é resultado de quase 15 anos de convivência com as aldeias. Nesse tempo, foi levantada a demanda pelo fortalecimento da Escola Kalapalo. Durante todo o processo, houve vários momentos de troca, como a formação de professores em economia solidária, formação da associação indígena Ahya / Kalapalo, auxílio ao Museu do Índio, criação do acervo multimídia com apoio da Unesco (2011-2019), formalização do Projeto Político Pedagógico (PPP) e elaboração do mapa das aldeias impresso e em acervo multimídia.

O pesquisador afirma que a partir de 2014, com apoio da Pró Reitoria de Extensão e Cultura (Proec), o projeto obteve melhores condições de realizar etapas que atendessem às necessidades da aldeia. Nesta fase de levantamentos do projeto, a pesquisadora Verônica Monachini desenvolveu sua iniciação científica e realizou trabalhos com as crianças da aldeia sob a temática da infância Kalapalo. No decorrer da pesquisa, ela identificou que o material de alfabetização no padrão nacional não contemplava o contexto sócio-histórico da aldeia. Portanto, para a próxima etapa, a pesquisadora vislumbra a participação de professores de linguística que colaborarão com a padronização da grafia.

O diretor da escola estadual indígena central de Aiha, Ugise Kalapalo, enfatiza que foi fundamental a parceria entre o grupo de pesquisadores, pois não havia conhecimento suficiente para implantar um material educacional. De acordo com ele, a preocupação é que sua etnia não perca a língua materna e, para garantir isso, é muito importante, além da transmissão da cultura oral, todo o processo de aprendizagem e preservação da escrita.

 

Ugise Kalapalo, diretor da Escola Estadual Indígena Central de Aiha

 

Na segunda quinzena de maio, a Unicamp recebeu a visita de três integrantes da aldeia Ahya Kalapalo que participaram da 2ª mostra de Cinema Indígena, promovida pelo IFCH. O filme “Osiba Kangamuke” foi produzido pelo grupo de trabalho e exibido na mostra.

Para Guerreiro, foi uma experiência positiva, uma oportunidade de contarem e mostrarem suas experiências, não só por meio de histórias, mas também como produtores de filmes. “Ficou claro que enxergam a produção cinematográfica como meio de extrapolarem as fronteiras da pesquisa. É o melhor que podíamos esperar da integração entre ensino, pesquisa e extensão”, completa.

 

Hugeku Kalapalo, professor da Escola Indígena de Aiha

 

Para Hugeku, que atuou no filme dos Kalapalo, foi importante mostrar sua cultura: “É um registro que vai ficar para sempre”. Yuahula ficou satisfeito em ter atuado no filme, disse que além da produção, foi interessante mostrar e conhecer culturas diferentes. Ugise afirma que fazer o filme foi muito importante para levar a outros povos sua cultura. Ele quer ter mais oportunidades de estar na Unicamp e desenvolver aprendizado que possa aplicar em sua comunidade, pois considera fundamental o compromisso de levar conhecimento para sua aldeia.